quinta-feira, 5 de abril de 2007

Liberdade e felicidade – quem tem mais?

não sei se é por ser da época pascal mas há uma imagem recente que me persegue. tem cerca de 1 mês, o acontecimento. eram 8h da manhã de um domingo em que iniciei sozinho o treino de 1h15’. os companheiros do gafe chegariam mais tarde e cruzar-me-ia com eles no final. estava na fase de aquecimento e ligeiros alongamentos no parque de estacionamento do casino do estoril.
um homem dos seus 50 ou 55 anos descia pelo parque, ligeiramente cambaleante. vestia um fato verde escuro amarrotado, usava gravata, o cabelo era comprido, manifestamente oleoso. não se apercebeu da minha presença junto do carro. desceu e seguiu direito a uma garrafa de espumante abandonada no meio da rua. levou-a aos lábios e começou a beber. de seguida, de garrafa na mão viu um copo igualmente abandonado no chão, ainda meio cheio. levou-o à boca e bebeu-o de uma só vez. finalmente, encheu novamente o copo com o que restava da garrafa de espumante e novamente, de um só trago, terminou a bebida.
seguiu o seu caminho rumo ao caixote do lixo mais próximo. vasculhou mas não retirou nada. novamente a caminho desceu para o jardim do casino.
entretanto iniciei a minha corrida e cruzei-me com ele. tentei olhá-lo bem nos olhos. não me via. seguia o seu destino, imune à manhã, aos olhares, aos preconceitos, às regras, aos sons. seguia a sua alma, onde quer que ela já fosse. corri lentamente em direcção ao paredão do estoril, rumo a cascais. ainda me virei. o mesmo. o mesmo olhar longínquo, a mesma passada ao sabor da inclinação do caminho, o mesmo vazio, parecia que voava levemente por sobre o verde do jardim, assim, sem o peso da gravidade e das rotinas.
não posso, porque não consigo, não sei, afirmar qual dos dois será mais livre e, por consequência, mais feliz. que corridas da vida terá corrido aquele homem? qual a corrida que nos fará mais feliz, a minha ou a sua? nenhuma. cada qual escolhe a sua corrida e caso não seja feliz tem sempre a opção de mudar.
abraço
até breve
boa páscoa
ab

2 comentários:

Anónimo disse...

Amigo António como somos pequenos!
Muitas vezes me pergunto como poderei ser melhor.
Como poderei contribuir um pouco para um “mundo melhor”.
E invariavelmente sinto uma frustração enorme porque a minha preguiça não me deixa fazer nada por outros que não sejam os meus.
Obrigado pelo teu texto que me relembrou o quão pequeno sou.

António Bento disse...

o quão pequeno somos companheiro! na sombra das nossas idílicas rotinas falta-nos aquela fatia de coragem para procurar a liberdade. só assim poderemos tb ajudar mais quem mais necessita. revejo-me nas tuas palavras. grande abraço
ab