sábado, 20 de dezembro de 2014

Do lavagante à subida "canhão"

ontem foi dia do 1.º jantar - com o mote sempre facilitador da época natalicia - do grupo das bicicletas de domingos e afins.
num restaurante pequeno, quase despercebido aos olhos mais distraídos, curiosamente nas traseiras da praceta onde vivi até aos 10 anos, onde cresci e aprendi, talvez, o que interessa e as fundações, e onde antes, nesse tempo, passávamos por um carreiro pelo meio de um canavial.
na ementa, com prévia reserva um folhado de lavagante e um pato no forno. um bom vinho alentejano para empurrar e uma mousse de chocolate com amêndoa moída para fechar, que coisa maravilhosa.
eu que não bebo café, geralmente, até nem quis sair sem um, pois estava mesmo a pedir.

para além da sempre muito agradável companhia - OBRIGADO JM, NL, CT e PA - seja nos pedais, seja na mesa, e contando sempre com as habituais piadas foleiras, picardias e troças marotas, há que louvar o esplendoroso manjar - a repetir pois claro, o baixo custo da coisa - outra agradável surpresa, e mais um atrativo: negócios à mesa.

no relaxe de um excelente momento de convívio adquiri a minha primeira bicicleta de estrada a um dos convivas, creio que num negócio de ganha-ganha. seguindo os melhores conselhos, dos experientes randonneurs dos quais um estava mesmo ali ao meu lado, comprar em 2ª ou 3ª ou 4ª mão, desde que em bom estado, vale geralmente sempre mais a pena do que comprar novo. e assim foi. amanhã vou vê-la de manhã e vou buscá-la ao final do dia.
a semana natalícia promete ser de motivação e inspiradora :).

agora, abrem-se outras perspetivas, pelo menos ao nível da eficiência e da melhor gestão do tempo, fazer igual, ou mais quilómetros, com menos dispêndio de esforço e tempo. não tirar tanto tempo à malta cá de casa, mais tempo para partilhar e para proveito próprio ...!

à partida, só vantagens. conheço a bicicleta, está em bom estado, tem material de boa colheita, um belo carbono de há 14 anos ...! contando que a minha atual GIANT todo o terreno já leva 23 anos e não sou propriamente o melhor tratador de bicicletas, conto andar pelo menos mais 9 ou 10 anos com esta TREK. e melhor ainda, é vermelha, vermelhona como o nosso Glorioso, a cor inspiradora.

no meio da janta sai uma informação sobre uma subida - eu gosto e procuro os desafios das subidas - lá para os lados de são marcos/barcarena.
ficou logo claro que hoje bem cedinho lá estaria. e assim foi!
saí pelas 6:45m (nem percebi que deviam estar perto de zero graus, pois a malta cá de casa disse-me há pouco que pelas 10h estavam 4,5 graus na rua). senti algum frio, é verdade, mas o foco estava na subida canhão.

antes ainda o tempo de lembrar que o PA regressou a casa, do jantar, de bicicleta, e que na marginal me meti com ele por duas vezes; ele sempre bem iluminado a provar que em segurança e com cuidado na visibilidade o perigo de circular de noite é bastante reduzido se todos cumprirem as regras.

segui até paço d'arcos, subi ao Tagus Park e meti depois para a estrada de são marcos. um quilómetro adiante começo a descer e lá avisto a descida canhão. flirtei a moça para a ir conhecendo e chegado lá abaixo fu idar uma volta a são marcos velho para subir e descer mais um pouco, conhecer melhor a zona e preparar a subidinha.

pois teve que ser, custou é claro, ficou o lavagante a meio da subida, o pato começou a gastar-se mas ainda sobrou, e nem foi preciso dar muita leveza às pedaleiras. temos aqui uma subida pior em algés de cima e as de barcarena, e a caminho de queluz de baixo, também são mais duras.

foi um excelente início de manhã, um pouco mais de 40 quilómetros para aquecer para o duche, nada de grandes trânsitos, mais um nascer do sol bonito, perto do mar. muito sereno.

OBRIGADO companheiros de jornadas pedaleiras e gastronómicas, valeu mais um belo momento.
um abraço, bom fim de semana e amanhã temos mais pedal!

domingo, 14 de dezembro de 2014

A Linha

Invariavelmente pedalo cada vez mais no sentido da linha do Estoril/Cascais.
Não deve ser apenas porque a conheço como a palma da mão, porque lá cresci e vivi durante 27 anos, porque tem água, praia, pôr do sol e lua cheia, alvorada e sol quente em dias frios, logo pela manhã.
Não deve ser apenas porque os meus pais, o meu irmão, os meus amigos de infância moram lá.
Nem deve ser apenas porque tem a Bijou, a boca do inferno, os passeios marítimos e ciclovias, a vista das mais lindas do mundo, o encanto de um pequeno paraíso.

Quando quero fazer 100 quilómetros já tenho o percurso certo, casa, cascais, guincho, cabo da roca, almoçageme, praia grande e volta.
Quando quero fazer 60, siga ao cabo raso e volta.
Quando são 50 e tais, pois também é por ali.
Sozinho ou acompanhado desfruta-se sempre, total e intensamente da linha.

Talvez seja, só talvez, uma questão de raízes e memórias. Voltar aos locais onde nos fizemos e que nos ajudaram a fazer, e onde fomos (mais) felizes do que infelizes tem destas coisas. É um regresso a um habitat, ao país da infância e da felicidade, da inocência, que nos ajuda (me ajuda) a focar, a revitalizar, a perceber os caminhos que fiz e escolhi e, de onde parti.

E não se consegue explicar a lua cheia na passada 6ªf de noite, nem o paredão de cascais apenas para nós, iluminado pelos holofotes e com o mar a açoitar as rochas e as pedras e a atiçar-nos a sua selvagem força. Tão pouco se explica o nascer do sol, geralmente em paço D’Arcos pelas 7:30h da manhã, já com 20 a 30 minutos de pedal e a senhora que tantas vezes lá está a fazer a saudação ao sol.

Ou ainda a improvável senhora/moça que hoje de manhã, pelas 9 horas na praia da conceição lá estava na areia, de biquini e logo de seguida na água a banhar-se e a nadar … com muito poucos graus cá fora e certamente lá dentro, um hino ao controlo do corpo pela mente, certamente.


A linha, esta linha, sempre na minha vida, para sempre nas minhas memórias.