ontem foi dia de jantarada do gafe. muito agradável, como é habitual. as conversas versaram naturalmente os temas da corrida, com ligeiras incursões nas vidas profissionais, pessoais, no futebol e na política.
reflectindo após o jantar, e curiosamente ou talvez não, sinto o gafe a crescer num sentido de estruturação "competitiva" que não faz o meu género. não me revejo, por várias razões, na actual realidade do grupo.
qualquer estrutura organizativa e social (incluindo assim a dinâmica de grupos como este) passa da génese informal (o melhor exemplo são as empresas que começando com estruturas pequenas e muitas vezes familiares, vão crescendo para níveis de estruturação formal que impõem novas dinâmicas) para um grau mais sofisticado e complexo de relações (formais e informais). o gafe não foi excepção. têm vindo a crescer os desafios, têm vindo a acrescentar-se novas conquistas no grupo. a competição de cada um consigo mesmo tem sido adaptada às necessidades de cada um e os novos patamares vão-se sucedendo.
mas … e este é um “mas” meramente subjectivo (não o são todos?) e de opinião pessoal, cada vez menos se fala e se partilha o prazer de correr. fala-se dos treinos duros, das séries, do ritmo por quilómetro, dos novos objectivos, das próximas maratonas e vai minguando a temática sobre a plataforma que juntou um grupo de conhecidos que se tornaram amigos: o prazer de correr e de correr em conjunto.
o prazer agora vai estando mais ligado às maratonas, ao próximo objectivo competitivo, aos planos de organização da próxima deslocação, à superação do melhor tempo. perfeitamente legítimos, atenção. provavelmente este meu sentimento é devido à minha esfera de motivações não andar propriamente à volta das maratonas. e devido ao meu conceito de superação na corrida não ter muito a ver com os “melhores tempos”. tem mais a ver com processo e com o caminho, do que com o resultado final. idiossincrasias.
o jantar de ontem, para além de agradável enquanto evento de convívio, teve o condão de mais uma vez me levar a pensar sobre porque corro. e hoje de manhã, durante e após os 45 minutos sob um sol agradável e confortante, mais uma vez o soube: o meu prazer na corrida não decorre de qualquer motivo competitivo. é claro que há ciclos em que desejamos chegar mais longe. mas a corrida é um meio para me dar liberdade e controlo. para me permitir pensar a sós, naqueles momentos só meus. por isso gosto de correr sozinho. a minha motivação não decorre de qualquer motivo externo. é puramente interior. talvez seja essa a razão pela qual me começo a sentir deslocado no grupo, não das pessoas individualmente, mas do grupo enquanto dinâmica e filosofia - enquanto forma de estar na corrida.
tudo tem um início e um final. não sei se estou num final. mas tenho uma opinião: cada vez menos me revejo na forma de partilha que actualmente existe -não se partilha o prazer de correr. por isso me sinto deslocado. por isso mesmo o jantar de ontem foi importante. para me permitir reflectir: já fomos um “bloco”, onde havia alguma comunhão com a corrida por pano de fundo. hoje em dia somos vários blocos, várias realidades. não creio que haja um prazer conjunto, efectivamente partilhado, como já houve. nostalgia? talvez. resistência às mudanças? talvez sim, ou … talvez não.
pelo menos, reflexão sobre para que me serve a corrida. e a certeza de que me serve, não para correr maratonas, meias, 15 ou 10 quilómetros, mas para me ir encontrando comigo, sempre que o consigo. se o custo é não estar no espírito competitivo do grupo, seja; coerente, tentarei alimentar este espaço de amizade e procurarei outro para a minha corrida. porque também acredito que há diferenças em que não vale a pena insistir. há isso sim que respeitar essas diferenças, bem como as diferenças de personalidade e de motivações, e as diferentes dinâmicas que entretanto se vão criando. lá diz o velho ditado, e os velhos ditados têm o condão de conter toda a sabedoria acumulada milenarmente pela experiência: “quem está mal que se mude …”.
quando o prazer de nos juntarmos ao domingo regressar ao "estarmos juntos" e não ao "fazer mais um treino para a maratona x", talvez volte a sentir alguma comunhão com o espírito em que foi criado o grupo. até lá continuarei, saudavelmente, a correr, e a ir aos jantares, pois esses momentos não têm retorno e nunca se devem perder. são ricos.
um abraço a todos os gafistas e um sentido obrigado pelo que me dão e pelo que me fazem reflectir.
ab
reflectindo após o jantar, e curiosamente ou talvez não, sinto o gafe a crescer num sentido de estruturação "competitiva" que não faz o meu género. não me revejo, por várias razões, na actual realidade do grupo.
qualquer estrutura organizativa e social (incluindo assim a dinâmica de grupos como este) passa da génese informal (o melhor exemplo são as empresas que começando com estruturas pequenas e muitas vezes familiares, vão crescendo para níveis de estruturação formal que impõem novas dinâmicas) para um grau mais sofisticado e complexo de relações (formais e informais). o gafe não foi excepção. têm vindo a crescer os desafios, têm vindo a acrescentar-se novas conquistas no grupo. a competição de cada um consigo mesmo tem sido adaptada às necessidades de cada um e os novos patamares vão-se sucedendo.
mas … e este é um “mas” meramente subjectivo (não o são todos?) e de opinião pessoal, cada vez menos se fala e se partilha o prazer de correr. fala-se dos treinos duros, das séries, do ritmo por quilómetro, dos novos objectivos, das próximas maratonas e vai minguando a temática sobre a plataforma que juntou um grupo de conhecidos que se tornaram amigos: o prazer de correr e de correr em conjunto.
o prazer agora vai estando mais ligado às maratonas, ao próximo objectivo competitivo, aos planos de organização da próxima deslocação, à superação do melhor tempo. perfeitamente legítimos, atenção. provavelmente este meu sentimento é devido à minha esfera de motivações não andar propriamente à volta das maratonas. e devido ao meu conceito de superação na corrida não ter muito a ver com os “melhores tempos”. tem mais a ver com processo e com o caminho, do que com o resultado final. idiossincrasias.
o jantar de ontem, para além de agradável enquanto evento de convívio, teve o condão de mais uma vez me levar a pensar sobre porque corro. e hoje de manhã, durante e após os 45 minutos sob um sol agradável e confortante, mais uma vez o soube: o meu prazer na corrida não decorre de qualquer motivo competitivo. é claro que há ciclos em que desejamos chegar mais longe. mas a corrida é um meio para me dar liberdade e controlo. para me permitir pensar a sós, naqueles momentos só meus. por isso gosto de correr sozinho. a minha motivação não decorre de qualquer motivo externo. é puramente interior. talvez seja essa a razão pela qual me começo a sentir deslocado no grupo, não das pessoas individualmente, mas do grupo enquanto dinâmica e filosofia - enquanto forma de estar na corrida.
tudo tem um início e um final. não sei se estou num final. mas tenho uma opinião: cada vez menos me revejo na forma de partilha que actualmente existe -não se partilha o prazer de correr. por isso me sinto deslocado. por isso mesmo o jantar de ontem foi importante. para me permitir reflectir: já fomos um “bloco”, onde havia alguma comunhão com a corrida por pano de fundo. hoje em dia somos vários blocos, várias realidades. não creio que haja um prazer conjunto, efectivamente partilhado, como já houve. nostalgia? talvez. resistência às mudanças? talvez sim, ou … talvez não.
pelo menos, reflexão sobre para que me serve a corrida. e a certeza de que me serve, não para correr maratonas, meias, 15 ou 10 quilómetros, mas para me ir encontrando comigo, sempre que o consigo. se o custo é não estar no espírito competitivo do grupo, seja; coerente, tentarei alimentar este espaço de amizade e procurarei outro para a minha corrida. porque também acredito que há diferenças em que não vale a pena insistir. há isso sim que respeitar essas diferenças, bem como as diferenças de personalidade e de motivações, e as diferentes dinâmicas que entretanto se vão criando. lá diz o velho ditado, e os velhos ditados têm o condão de conter toda a sabedoria acumulada milenarmente pela experiência: “quem está mal que se mude …”.
quando o prazer de nos juntarmos ao domingo regressar ao "estarmos juntos" e não ao "fazer mais um treino para a maratona x", talvez volte a sentir alguma comunhão com o espírito em que foi criado o grupo. até lá continuarei, saudavelmente, a correr, e a ir aos jantares, pois esses momentos não têm retorno e nunca se devem perder. são ricos.
um abraço a todos os gafistas e um sentido obrigado pelo que me dão e pelo que me fazem reflectir.
ab
2 comentários:
Como sabes,
Assino por baixo.
Abraço
Li e...
Como sempre gostei de te ler. Mas também fiquei um pouco triste. Não que não tenhas razão na tua análise, mas porque é triste sentir que alguém está a afastar-te. Mas talvez não seja verdade que o grupo esteja a caminhar noutro sentido, ou seja, talvez o grupo esteja a sentir a tua falta e de todos aqueles que têm outra onda. Eu sinto... (e como somos poucos não tenho feito uns bolos para pessoal possa comer no fim do treino... o que me traz mais leve mas mais triste).
Pessoalmente gosto muito da competição comigo mesmo (ultrapassar-me é um dos meus desafios) mas também gosto muito de correr só por correr. É verdade que sinto prazer quando vou na peugada dos mais competitivos mas se calhar ainda sinto mais quando acompanho aqueles que, por qualquer razão, vão mais lentos ou quando corro sozinho.
Amigo não me esqueço que a génese da GAFE está numa corrida em Setúbal onde por prazer dois maduros iniciaram uma meia em conjunto. UM ABRAÇO AMIGO.
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