há 40 anos nasceu em lisboa, no dia 16 de março, pelas 13h30m, um pequeno ser, com 2,450 kg, que hoje de manhã completou 40 km de corrida para festejar o dia com um quilómetro por cada ano de vida.
reza a história que o avô antónio, avô paterno, quando viu a criança mencionou, no seu pragmatismo alentejano, que “tinha lá em casa coelhos maiores”.
três meses depois o recém-nascido levou com uma vacina estragada pelo sol de junho. quase se passou para outra dimensão, esta “aproximação de coelho”. esteve num estado meio próximo do comatoso, mas lá seguiu em frente, aguentou-se nas canetas – teve sorte, mais uma vez na vida. este “quase coelho” é um tipo cheio de sorte, afinal. e ainda bem, pois é muito bom estar aqui para contar a aventura de hoje de manhã.
bom, o avô está algures, e concerteza, orgulhoso e desconcertado, pois o “mais pequeno que os coelhos” até se saiu bem hoje, em mais um episódio da “sã” loucura dos corredores de “alguma” distância.
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a história dos 40 quilómetros de hoje de manhã confunde-se com a felicidade do dia.
pela hora estabelecida saí de casa. 6h30m. a temperatura estava muito agradável. 5 minutos depois surge um carro: carlos ferreira. iria fazer a primeira 1h e meia comigo.
caro amigo carlos: um agradecimento especial, para uma pessoa especial, que é também um atleta especial (e hoje vi que gostaste de andar no ritmo do tartaruga :))))) - se te habituas estás tramado!!!)
seguimos em direcção ao jamor e por lá andámos. cruzámo-nos com alguns corredores (notoriamente alguns de gabarito, velozes logo à 2ªf de manhã); fomos no paleio, agradável, sempre a um ritmo conservador, porque o caminho iria ser longo.
muito sereno este início de dia. pelas 8h, de acordo com plano, e por volta dos 14 km, voltámos à porta de casa para festejar com a cristina, rodrigo e andré. beijos especiais que revitalizaram a energia para o que faltava. troquei de gel e mantive-me com o powerade inicial. despedi-me do carlos e segui para junto do rio.

eu e o carlos, com o rodrigo de costas (foto: cristina)

a caminho dos restantes 26 km (foto: cristina)
o vento esteve sempre de frente até à praça do comércio. algumas pessoas a caminhar e a correr. o dia estava magnífico, o sol radioso, o calor vinha aí. sem grandes pensamentos nem preocupações com ritmos, lá fui seguindo confortável, entre os 6m e 6m15s/km. sentia-me bem. perto dos 25 km comecei a sentir as dores, normais. por entre a rua do arsenal cheia de carros, autocarros e alguma fumarada, as obras da praça do comércio e as pessoas atarefadas para ou num dia de trabalho, lá cheguei ao jardim das cebolas, onde virei com perto de 28 km. era hora de voltar. as pernas davam sinal mas sentia-me forte e muito bem. talvez melhor do que em qualquer das maratonas que realizei. também, ia mais devagar, é natural.
por falha minha combinei mal o abastecimento dos 30 km com a cristina. já ia sem bebida e o gel estava no fim, por alturas do cais do sodré, no regresso. o ritmo estava bom, e com o vento pelas costas ainda fiz um quilómetro a 5m33s e dois a 5m45s – um luxo!
o calor apertava. ninguém sentia certamente, das pessoas que iam trabalhar, mas eu comecei a sofrer um pouco.
estratégia alternativa, plano b: beber água nos quiosques e perto do "café in", e caso fosse necessário, nas bombas de gasolina.
assim foi! no quiosque da rocha - chamado de “os primos”, um copo de água com sabor a festa, parecia champagne. o meu maior obrigado pela simpatia e solidariedade.
sempre em frente, esforçava-me por ignorar as dores. sabia estar forte e agora o jogo era apenas mental. no "café in", na torneira, mais água; aproveitei para passar a cabeça por água. soube bem, estava fresquinha.
no padrão dos descobrimentos, pelos 35 km, finalmente, o sorriso da cristina, a banana (meia, não dava para mais naquela fase) e um gole de powerade: “e siga que se faz tarde e está calor!”
o passeio continuou e agora custava um pouco mais, mas a mentalização era quilómetro a quilómetro, apenas isso. mantinha um ritmo agradável e tentava terminar depressa pois já estava muito calor. em algés no café do túnel da estação, mais um copo com água e … subida final.
e a partir daí custou e muito: faltavam 2,5 km, sempre a subir. com os prédios a fazer de corta-vento a temperatura aumentou uns graus. sentia-me bem em termos respiratórios mas sofria das pernocas. lembrava-me do porto 2007 e das cãibras, o calor, o calor. lá fui correndo mais devagar.
e quando cheguei aos 40km, cumprido o objectivo primeiro, decidi parar.
já tinha feito a distância, diverti-me, retirei prazer deste “treino” longo, realizei-me. o desgaste já era grande. há uns quilómetros que sentia uma bolha a começar a emancipar-se.
pensei no nuno k., na corrida da serra da freita :) (opssss … nuno, ainda não é esta de 80 km, pois não??? é a do pastor de 28 km né? :))
com a responsabilidade dos 40 :), preferi poupar-me e poupar a bolha. estava servido o prato principal. não queria piorar, nem fazer perigar a estreia nos trilhos, daqui a 2 semanas. prudente!

a evidência material do treino (foto: cristina)
como castigo obriguei-me a subir os 3 andares pelas escadas, como sempre, e segui para uma cadeira. bebi mais powerade e o que restava das minhas perninhas foi para o duche.
aí deu-se a maravilha mais prodigiosa de que me lembro desde que sou atleta: uns minutos de água fria nos pés, tornozelos, pernas e coxas, seguidos de um duche total rápido e eis-me como novo, preparado para o treino de recuperação do final da tarde :))
inacreditável. saí do duche como se tivesse feito apenas 20 km. bendita água fria.
e assim foi! um início de dia bem começado (obrigado carlos, obrigado meus amores), uma manhã de prazer e realização, um telefonema do meu pai, um almoço com o filhote mais velho e com a minha mamã (há 40 anos não estava tão descansadinha a esta hora :) e uma tarde que será passada com a miudagem, uma noite em família.
há algo melhor para um dia especial???
abraço
ab
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caso fosse uma maratona teria parciais bastante equilibrados:
10 km - 1h01m
20 km - 2h04m (1h03m)
30 km - 3h06m (1h02m)
40 km - 4h10 (1h04m)
o treino está no bom caminho.