sábado, início da tarde. após o almoço encostei-me no sofá e com as rampas da manhã nas pernas aterrei ... cabecita na almofada, corpo encolhido, fui-me afastando das vozes da família.
bastariam uns minutos e estaria recuperado, pensei. é o melhor sono, o mais retemperador, a seguir à refeição, quando o corpo exige uma sesta. caí que nem um grande calhau.
passado um tempo - nem percebi se muito se pouco - ouvi lá ao longe uma espécie de som, talvez fosse a campaínha. o meu pai chegara para ver os netos - sim, os pais quando nos visitam nesta fase da vida, é para ver os netos :)))
ouvi de novo algumas vozes, mais perto, mas tive muita dificuldade em distinguir quem entrara em casa. todos estavam animados menos eu, sem condições para sequer abrir o olhinho.
o meu pai sentou-se no mesmo sofá onde eu estava todo encolhido. muito a custo, noutra dimensão, percebi que era ele. sugeri-lhe que puxasse uma almofada para se encostar e pedi desculpa por estar a incomodar não me mexendo, mas o que é facto é que assim continuei.
passado um momento, senti a mão e o braço do meu pai pousados na minha perna.
despertei, sereno, repousado, e percebi tudo.
percebi o amor dele por mim, naquele instante.
mais ainda, percebi o apelo do toque físico, a importância e a inevitabilidade de amar tocando.
e percebi que continuo a ser a criança que o meu pai adora.
e que me começa a pedir o toque físico que a "velhice" merece e pela qual anseia.
ele não fugiu do toque quando percebeu que eu o sentira. seria talvez expectável num homem que é o produto de uma geração ensinada, a esconder, e a esconder-se, dos sentimentos.
eu não fiz qualquer esforço para afastar aquele momento.
sou um ser físico (signo peixes, água, talvez por aí ...).
preciso de tocar e ser tocado (os meus filhos sofrem com os meus acessos de carinho :-), com os autênticos mega abraços que lhes dou, com as festas e as brincadeiras, sou um grande chato muitas vezes), não tenho qualquer problema em trocar "toques" com as pessoas de quem gosto.
e quero ser sempre a criança a quem o meu pai afaga. cá estarei para o inverso, que neste ciclo da vida começa a ser uma realidade necessária. cá estarei para fisicamente lhe dar o meu amor. e no sábado percebemos isso, os dois. em simultâneo e em sintonia.
porque acredito piamente que o amor é antes de mais físico, que sem a manifestção da dimensão física não há sobrevivência possível no amor. o toque, o toque, eis o elemento fundamental.
amo-te pai.
e vou tocar-te durante muitos mais anos.
porque no sábado vivi (vivemos) um momento único e estou-te eternamente grato por aquele instante.
ab
p.s. - este post é muita maricas, mas paciência.
na falta da carta de amor (esta coisa de machos a escrever cartas de amor a machos, ainda mais aos pais, que são os machos antes dos machitos ... é mais difícil), o tartaruga vai desfrutando a vida de forma serena e vagarosa, apreciando o caminho.
e este é o relato daquele que foi um autêntico momento único da vida de um tartaruga, a apreciar com calma o amor. e a fazer por merecê-lo.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
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6 comentários:
obrigado amigo.
são tão maricas que até uma lágrima caiu ao ler-te.
Que título? - pergunta o António
Que comentário, pergunto eu...
Bonito de ler, de sentir, de ...
Um beijinho António
Em Março chego aos 35, também sou peixes... Estou a chegar à conclusão que para termos, temos que dar. Temos que nos expor sem medo de alguma coisa que não fazemos ideia. Um comentário lamechas mas pronto!Só para dizer que gostei do Post e do blog. Abraços de uma tartaruga do pedal
Amigo António
Há pessoas que têm alguma dificuldade em revelar o que sentem (eu sou capaz de ser uma delas) porque o "mundo dos sentimentos" é uma área muito nobre da nossa existência.E "sensível". Um deslise na expressão poderá resultar em coisa diferente da desejada.
No entanto, é pelo que revelamos, que somos conhecidos.
Este texto ternurento é um texto que qualquer de nós gostaria de escrever, pois tem o condão de aproximar mais quem se ama.
Bonito de ler. Para que é que é preciso um título?!
Grande abraço.
FA
Não precisa de título.
Quem lê, revê-se.
Sem mais.
Muito bom
Às vezes lêmos e gostamos.
Outras vezes lêmos e gostamos muito.
Outras vezes há em que gostamos muito e não conseguimos e nem sequer é justo que fiquemos indiferentes.
Obrigado pelo belo texto.
José Alberto
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