O que vale a pena

sábado, 21 de junho, oito horas e quarenta.
no estádio nacional, perto da pista de canoagem inicío um treino sob uma temperatura de 24 graus. já!
o céu está tão azul ... daquele azul que quase fere os olhos. um avião acabado de dar a volta pela rota da caparica prepara-se para aterrar. há gente que caminha, mais do que gente a correr. as águas da pista de canoagem estão paradas, ainda frescas. um pato deleita-se em cima de uma amarração de cordas. goza a última brisa antes do calor invadir definitivamente o espaço terrestre.
corro em direcção à pista de crosse. a vegetação ampara quem por ali circula. protege-nos do impiedoso sol que nasceu forte e irá demonstrar o seu poder durante todo o dia.
ouvem-se os pássaros por entre o verde que nos conduz ao crosse.
ouve-se o rio jamor. corre por entre pedras, agita-se em pequenas cascatas.
o rio jamor é poluído, mas os rios poluídos têm igualmente direito a oferecer o som de um rio a correr.
regresso da crosse e fecho os olhos. quando queremos é fácil abstrair e ouvir apenas os pássaros e as águas do rio. e é fácil esquecer que é um rio poluído. fizeram-lhe (fizémos-lhe) mal, mas não perdeu o seu direito a ser rio, nem a sua identidade de rio cujas águas também correm como qualquer rio no gerês. apenas mais castigadas. mas águas de igual forma. o seu som é inimitável.
quarenta minutos após o início vou terminar a jornada. ainda tenho tempo para ver os incríveis arco-irís, por entre a água que rega a relva junto ao campo sintético de hóquei em campo.
são só meus naquele instante.
paro para beber água. agora sim terminei. alongo numa sombra e dirijo-me ao carro.
é fácil saber o que vale a pena. por vezes complicamos e tornamos difícil lá chegar. mas chegamos.
ab