terça-feira, 31 de julho de 2007

Crenças e causas


é um momento que me impressiona.
todos os anos, por esta altura, cruzo-me com a multidão que acorre ao estádio nacional.
umas vezes logo de manhã cedo, quando termino o treino matinal. outras, como na passada 6ªf, quando fico numa fila à saída da a5 e até ao estádio principal, vendo a massa a dispersar depois de um dia de intenso calor, em que estiveram num estádio que imagino ter estado bem moldado, a dar vida às actividades, orações, preces, cânticos, à sua crença e fé.
é um espectáculo muito bonito, a ida para, e a vinda da, cerimónia.
pessoas de todas as cores, estratos sociais, com motivações certamente díspares, afluem a um belo recinto, enquadrado numa paisagem de sonho – um estádio construído no meio de uma mata, onde ainda se respira a natureza no seu esplendor.
são aos milhares. velhos, novos, crianças. trajados a rigor, como se estivessem a chegar a um casamento. a cor é um elemento marcante: vestes de cerimónia, vestidos típicos de variadas etnias e culturas africanas e outras que não sei identificar, que emprestam ao jamor uma janela de vida e de multi-culturalidade, um forte sentimento de integração entre a natureza e o ser humano.
as lancheiras numa mão, pastas na outra, filhos ao colo das mães, jovens em passo célere contrastando com a calma e serena passada, quer das mulheres, quer dos mais idosos.
não sei exactamente a que igreja pertencem. procurei na internet mas não fui bem sucedido.

mas o que mais me impressiona é esta massa de gente mobilizada por uma causa.

sim, porque só uma causa forte consegue mobilizar tantas pessoas desta forma, sob um clima tórrido.

sou ateu. dos convictos. acredito no palpável, e para o bem e para o mal, no ser humano.

a minha fé é muito terrena. não acredito em algo superior, porque penso que se existisse o mundo não poderia ser como é. existiria, concerteza, mais justiça e maior protecção para quem nunca fez mal a ninguém.

não sou melhor nem pior do que ninguém. por ser ateu esforço-me muito para respeitar as crenças dos outros, guardando os juízos de valor para mim, pois as crenças são, antes de mais, de carácter pessoal e íntimo, e passíveis de respeito e de tolerância por parte de todos.

não deixo todavia de observar com algum espanto a fé das pessoas e as causas que as movem desta forma. se todas as forças que mobilizam estas pessoas forem direccionadas para o “bem” (este é sempre um conceito perigoso) talvez o mundo melhore um pouco em cada dia.

ab

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois é priminho, as tuas palavras não podiam vir mais a propósito para corroborar tudo o que ontem senti. Fomos até Fátima e como tu sou Ateia, e sinto exactamente o que expressaste, ainda me impressionou + a quantidade de jovens a percorrer um trajecto enorme de joelhos, também sob um sol tórrido. Será que existe explicação para toda esta fé, quando dia a dia nos confrontamos com crimes, guerras, violência de todo o tipo? Dá que pensar, o que motiva toda esta massa humana, será que questionam alguma coisa? Enfim um bom tema para debate.
Resto de boas férias, o jantar e o convívio foram óptimos.

Beijos para todos e até breve