Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.
Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.
Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.
Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.
Longamente bebem
o silêncio
nas próprias mãos.
O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.
Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.
Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.
É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.
São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.
Quando o galo canta,
desprendem-se
para serem orvalho.
O sorriso
é para as criança
que pressentem nas fontes.
Só elas conhecem
a morte
pelo cheiro da sombra.
Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede
domingo, 4 de maio de 2008
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1 comentário:
São de Eugénio de Andrade as palavras.
À medida que as lia, sorvia-as e pensei que poderiam muito bem e com toda a naturalidade, ter saído de António Bento.
Um beijinho
Ana Pereira
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