sexta-feira, 26 de março de 2010

34 (50 minutos e bootcamp ...)

hoje lá marcharam mais 50 minutos.
são dos que sabem mesmo bem:
- cheguei ao jamor já depois das 19h para recolher o atleta. comecei o treino sem saber quanto tempo teria de treino.
o ritmo estava óptimo, o cardio aprazível, a noite maravilhosamente temperada, o ambiente convidativo para correr ou caminhar.
até os mosquitos que nos últimos dias têm multiplicado a sua presença, estavam serenos.
que belo treino!

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a nota de relevo foi ter visto mais uma vez (já havia reparado) um grupo integrado numa sessão de bootcamp.
não sei se acho piada ou não, colocar a tónica base do exercício no elemento militar, com um instrutor vestido a rigor, corridas ritmadas com cantilenas para magalas, ...

mas assumindo que consigo entender esse papel, parece-me interessante tirar grupos de pessoas dos ginásios, colocá-las ao ar livre a fazer exercício conjuntamente, dar-lhes um sentimento de pertença.

a parte que me parece mais ridícula são os cânticos militares e os gritos "guerreiros" durante as sessões.
ok, faz parte da encenação e do contexto, mas ainda assim.

mas também, cada um tem direito à sua opinião e havendo quem goste, quem sou eu...!

fica o link para quem desejar explorar.
e viva o exercício físico.
bom exercício!

ab - tartaruga

quarta-feira, 24 de março de 2010

33 (... no Correr por Prazer)

o vítor dias, mentor do excelente blogue "correr por prazer" deu-me o prazer e a honra de poder participar na rúbrica "blogosfera corredora".

escrevi um pequeno texto sobre a génese da febre do tartaruga e sobre o que me motiva, nas corridas, nas postagens e como se encaixam na visão de longo prazo, na minha vida.

ao vítor, à excelente equipa do correr por prazer e a todos os companheiros de corridas e caminhantes da blogosfera, a minha gratidão!

adorei o convite, o desafio e o resultado.

OBRIGADO!

ab - tartaruga

segunda-feira, 22 de março de 2010

32 (ou ... melhor: 500 posts)

bom ...
em 1º lugar um agradecimento a todos os que visitam, partilham e tornam este blogue vivo.
500 postagens é a modos que uma marca "redonda".
venham mais 500.

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este post poderia ser festivo. mas hoje não vai ser.

geralmente tento focalizar no essencial.
aqui vai: este post é para dar uma força a algumas das pessoas impecáveis que conheci através da blogsfera.

para a isabel, antónio, vitória, vítor e restante família:
um abraço, com a força possível.

ab - tartaruga

domingo, 21 de março de 2010

31 (ou ... outro lado de uma meia maratona)

era uma vez um dia perfeito.

começou com uma corrida de 1h30m.
o maravilhoso sol, o nosso sol, a luz tão portuguesa, tão limpa, brindou-nos desde logo de manhã. saído de casa rumei ao estádio nacional. muito devagar, de forma a contrariar o que é habitual nos meus ritmos :)), cheguei à zona da canoagem e por aí circulei durante uns minutos.
o sol ia aquecendo e já suava bastante quando ouvi os apitos da polícia a desviar o trânsito.

a marginal estava cortada devido à meia maratona, e … havia algo mais apetecível do que dispor desse liberdade no treino?

rapidamente me encontrei no trajecto da maratona carlos lopes do ano passado (a propósito o nk enviou-me um mail a informar que a prova não se realiza este ano, por falta de condições. eu ouso acrescentar, por falta de planeamento e deficiente gestão do evento). relembrei os bons momentos passados com o nk e com o gonçalo.

em direcção a algés observava as casas junto à marginal, no dafundo. algumas à venda, casas antigas, prédios degradados, uma zona onde ao atravessar da rua se fazia praia há umas décadas. actualmente, os carros invadem os passeios, a praia já não é praia, é areia com muito lixo e entulho acumulados. ainda assim, escondido no meio da vegetação protectora, encontra-se um conjunto de moradias e vivendas que mantém inalterável um certo porte de uma certa época, bem menos poluída.

já com o pórtico da partida à vista começam a surgir os primeiros atletas em cadeira de rodas no seu aquecimento. mais uns metros e o contingente africano, eles e elas, trotavam também para o seu aquecimento. e os restantes, de seguida, mais estrangeiros e os atletas nacionais.
a fernanda ribeiro sorria à passagem de um amador :) lento.
desejei-lhe boa prova e recebi um agradecimento simpático de uma campeã olímpica.

no regresso, cruzei-me novamente com todos e já se sentia no ar a adrenalina e a concentração que antecedem os grandes momentos.
desde já parabéns à organização pelo 20º aniversário da prova e pela cereja no topo do bolo com o recorde mundial da distância.
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já chegado a casa fui desafiado e deleitei-me com 2 horas de pingue-pongue ao ar livre, nas proximidades da nossa casa. tive eu reviver os ensinamentos de há mais de 25 anos, mas a coisa lá correu bem e mostrei aos aspirantes que é como andar de bicicleta, custa a esquecer :))
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refeito do treino e sorridente pela restante actividade da manhã, era hora, após o almoço, de rumar à praia de carcavelos. excelente tarde, muita gente a circular, para gozar estes primeiros esboços primaveris. momentos de pleno prazer, com a leitura de um apetitoso livro do josé eduardo agualusa – um pai em nascimento, do qual deixarei brevemente algumas notas deliciosas.

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entretanto o calendário de provas está a ser revisto e talvez dê para fazer uma provas “bonecas” em abril e maio.

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era uma vez um dia!

foi perfeito.

abraço, até breve
ab

sábado, 20 de março de 2010

30 (Treinar nas obras)

ontem ao final da tarde tive um tempito para treinar.
o 2º treino da semana, depois de 45m a rolar na 4ªf, com uma temperatura excelente, primaveril, também ao final da tarde.

não me quis afastar muito de casa e não sabia muito bem como me apetecia treinar.
fui aquecendo e ao fim de 10 minutos cheguei a uma das ruas que desce das instalações da marinha em linda a velha, até ao alto de algés.
o trânsito estava proíbido, excepto para transportes públicos e residentes.
logo ... não havia muito.

as obras decorriam mas sem movimento de camiões dumper e afins, aquela hora. nem perigos à vista para quem passasse a estrada.

e lá foram 60 minutos de sobe e desce, a subida não tem grande inclinação mas é extensa e deu para uma boa suadela.

houve assim tempo para muito perto de casa, e sem desperdiçar um minuto que fosse, ter um outro olhar, calmo, sobre o regresso do mundo a casa, numa 6ªf apetecível, véspera de um fim de semana que se prevê molhadote.

e mais:
ainda tempo para ver um senhor respeitável, idoso, a encostar o seu cajado à parede do viaduto e a arremessar um valente chichi contra a erva verdinha que por ali vai crescendo.
sem complexos, que isto da sabedoria e da boina na cabeça é um posto ;)

e no final, o regresso a casa, muito pertinho, muito calmo, muito vagaroso.

a obra, essa lá continua a crescer. mas até ver, descobri mais um local apetitoso para umas rampas.

bom fim de semana
abraço
ab - tartaruga

quinta-feira, 18 de março de 2010

29 (3 anos de tartarugadas)

pois é ...

já passaram 3 aninhos desde as primeiras palavras neste blogue.
foi em 18 de março de 2007.
desde esse dia muito se passou, muitas palavras foram escritas, muitos leitores por aqui passaram (não sei quantos, mas agradeço desde já a todos).

felizmente o saldo é muito, muito, positivo.

o tempo passa rápido e a única coisa a fazer é aproveitá-lo.

os objectivos definidos no 1º post têm sido amplamente concretizados, graças aos leitores deste blogue.
para todos a minha enorme gratidão!
começando com a corrida como tema base, outros temas foram sendo aqui postados. cada comentário, em cada tema, enriquece-me e estimula-me. sou certamente uma pessoa diferente pela interacção que o blogue proporciona e, essencialmente, pela possibilidade de conhecer gente tão rica.

só desejo que o blogue contine a ser do agrado de quem por cá passa. tudo farei para isso.

obrigado e até breve.

ab - tartaruga

quarta-feira, 17 de março de 2010

28 (As lições de Almourol)

aqui ficam as lições aprendidas (assim o espero :) nos trilhos de almourol.

1 – a massa, bela massa: repôs a verdade dos factos. se em condeixa parti intoxicado pelo belo queijo, enchidos e grelhados, mas a boa da batata frita e o excelente digestivo, aqui em almourol parti bem nutrido, com massa a rodos. é sempre melhor ter reservas e creio que se revelaram fundamentais. afinal, está tudo nos livros há muito :)

2 – a gestão do ritmo: foi crítica para ter chegado ao final. constipado como estava, se tivesse partido a acelerar (conceito sempre relativo em relação à minha pessoa, entenda-se …) teria sido muito difícil terminar

3 – correr acompanhado nestas provas longas ou muito longas: por mais que goste de correr sozinho, após as 3 ou 4h de corrida há um sentimento de conforto e de acompanhamento que é necessário assegurar. a percepção da pertença é fundamental. a cecília ajudou-me a chegar ao final, mais o moutinho, a eliana e o hélder. e a célia e o sousa, e o adelino, e …, e …, todos os que se iam cruzando comigo. afinal, todos somos animais sociais

4 – abastecimentos: foram essenciais. e pela primeira vez creio que soube tirar verdadeiro proveito dos abastecimentos sólidos. numa prova com estas características nunca é de mais parar, relaxar, ingerir sólidos sem grandes misturas e conversar um pouco. quando partimos, seguimos revitalizados pela comidinha no estômago

5 – bolsa ou mochila: bom, a experiência não foi muito positiva. a mochila teria talvez sido melhor. a bolsa com a garrafa de água e com a caixa dos óculos, começou a descair e a meio da corrida fui seguindo com a dita a tiracolo, alternando de lado. este pormenor é a rever, até porque voltei a correr com a bolsa no domingo durante 1h30m e correu bem, pois não ia muito cheia. o problema são os volumes tipo garrafas

6 – mental versus físico: foi uma extraordinária experiência porque creio que também pela primeira vez senti mesmo a mente a vencer o corpo. naquele momento em que o corpo já nada sente, a mente quis continuar e não deu tréguas. e faz-nos sair mais fortes do palco da peleja. acreditar é preciso, sempre! é o segredo. até ao fim. até porque nunca sabemos o que vai suceder 100m mais à frente e essa é a beleza deste tipo de provas

7 – água gelada nas pernocas: este continua a ser fundamental. descobri o ano passado e agora, logo após as corridas longas ou os treinos muito volumosos, toca de ficar com água gelada durante um bocado nas pernas e coxas, quer anteriores, quer posteriores. pode não parecer mas ajuda muito na recuperação

8 – próximo desafio: por razões muito especiais, não poderei fazer os trilhos do pastor e a maratona carlos lopes, que estavam no meu programa. as provas do nacional de fundo e do nacional de esperanças de kayak do rodrigo calham precisamente nesses fins de semana. por razões mais especiais ainda – a seu tempo – tenho que reequacionar a agenda para os próximos 2 ou 3 anos. questões de prioridades. daí que seja importante perspectivar algumas provas, mesmo que não sejam tão longas ou de trilhos, para manter a chama acessa. é que acreditem: 1 hora após a corrida já só apetece fazer outra semelhante, ou um bocadinho mais exigente. é apenas a natureza humana a falar, claro está!!! :) mas com calma, tranquilidade e muito bom senso, lá saberei encontrar o equilíbrio, o ponto certo onde se cruzarão harmoniosamente as várias prioridades

abraço

ab - tartaruga

terça-feira, 16 de março de 2010

27 ( ... hoje é dia de festa)

em dia de festa e antes das lições aprendidas em Almourol, 2 pequenas notas e desde já um enorme agradecimento à vida pelo que me tem dado.

está um dia maravilhoso, um sol tão português que nos deixa gratos por termos nascido e por vivermos neste país tão belo. com uma família e amigos maravilhosos e a saúde em cima, o dia de hoje vale por todos os que me permitiram chegar aqui.
não corri nem o irei fazer, pois há outras corridas.

mas após almourol já marcharam 3 treinos entre 6ªf e domingo e amanhã regresso às lides. ontem a cristina foi bebé, hoje toca-me a mim, e portanto, é tratar de festejar.
até porque a gracinha do ano passado iria sair cara desta vez - 41 são muito mais km do que 40 :))), com 2 trilhos de calibre a anteceder.
assim sendo, é tempo de festejo e resguardo :)

neste dia de festa fica o agradecimento a todos os que visitam este blogue pelo que me têm ajudado a crescer, e pela partilha das experiências, boas e menos boas, que me enriquecem a cada postagem e a cada comentário.

as 2 pequenas notas, também para partilhar outras coisas boas:

naide gomes – super, uma senhora, um bonito exemplo



fonte



cormac mccarthy – a estrada

um livro poderoso, dos que nos faz parar, pensar, chorar, acreditar na esperança ou alimentar a esperança acreditando, sempre.



fonte

bem hajam
ab

quarta-feira, 10 de março de 2010

26 (ou … um outro olhar sobre os Trilhos de Almourol)

sábado, 06 de março de 2010. a chuva castigava os viajantes em plena a1. na bermas inundadas de água, adivinhava-se o cenário aguado. uma viagem serena, graças à ao condução do meu amigo e mestre nk, também mestre na postura como cidadão da estrada.

entroncamento, a terra dos fenómenos.
um pavilhão modelo, com excelentes condições, onde há poucas horas haviam terminado as meias finais basquetebolísticas, num fim de semana de festa para a modalidade. bancadas vazias mas coloridas, a acalorar a noite fria. 2 viajantes em busca do dorsal que lhes daria o passe para mais uma aventura. rapidamente e junto da gente sempre disposta a ajudar, sempre uma invariante em terras pequenas e longe do individualismo das cidades maiores, somos encaminhados para a tenda. o casal brito, a cara da organização do clac, para estes trilhos. uma simpatia, ambos! um prazer receber o dorsal num espaço simples, mas acolhedor. porque erguido por gente sã, animada pela carolice de um sonho, o de trazer outros aventureiros, guerreiros e companheiros de pelotão, à terra e à beleza de uma zona que lhes é querida. a toda a equipa do clac, um enorme agradecimento e a justa homenagem pelo brio e pela organização de tamanha prova. também, em si, uma aventura, certamente, de que saíram mais ricos, sábios e com vontade de repetir para melhorar sempre mais.

conversa terminada, era a hora de percorrer alguns quilómetros até ao jantar. massa, no torres shopping. intimidante experiência, a de nem ter lugar para estacionar o carro no parque exterior, com o frio que estava. já não se convive em casa. agora, o shopping reina como contexto da partilha de afectos familiares. ou melhor: partilha virtualizada. após a ingestão dos benditos dos hidratos rumo a tomar, onde o nabão e uma residencial nos aguardava, nós os que se imaginavam os cavaleiros de uma nova e imemorial aventura, à procura da residencial dos cavaleiros de cristo.

tomar, cidade bela, onde o nabão corria forte, avassalador, perante uma urbe arranjada, limpa e acolhedora. tomar, a terra do buda, o desertor, acreditemos que por pouco tempo mais :), do 3º membro da equipa focatabu. tomar, o retiro dos guerreiros antes da peleja contra os elementos, mais uma, porque quem se inicia neste ofício amador de fim de semana, dificilmente o larga.

por esta altura reinava uma dúvida existencial na cabeça de um tartaruga. sim ou não, ser ou não ser (mais maluco), arriscar ou não? a garganta dava sinais, o trato respiratório superior estava completamente tapado e no dia seguinte estariam, implacáveis, à espera, os elementos. os agressores, para uma vítima voluntária.
a decisão de manhã. sim! à aventura. o pequeno almoço ajudou a revigorar (a simpatia e a qualidade do serviço tomarenses, pois a equipa da residencial antecipou em 30 minutos a abertura para pequeno almoço, só por nossa causa). o nk sempre solidário e sempre a incentivar. sempre de lenço de papel na mão e na trouxa, eis-nos rapidamente na zona da partida. após os cumprimentos habituais, a viagem de autocarro.

as brincadeiras entre companheiros de jornada ajudavam a esconder o nervoso miudinho, a adrenalina de não se saber o que viria a seguir, afinal a beleza do mistério das provas de trilhos. e ainda mais, numa 1ª edição. o autocarro afastou-se bastante da partida, tanto que perdemos a noção do tempo de viagem e apenas percebemos (percebi) que seria uma tarefa hercúlea, regressar. mas não havia regresso possível. como nas viagens que nos enriquecem, nunca regressamos os mesmos, ou da mesma forma, regressamos sempre diferentes e com novas perspectivas sobre nós e sobre o mundo. nunca regressamos, apenas partimos, de partida em partida, de aventura em aventura, sempre, sempre, em busca do mais fundo que carregamos dentro de nós.

no local da partida muita animação, muitas fotos, muitos piropos e conversas, encontros e reencontros. a festa de uma espécie de tribo, um subconjunto de atletas que tentam ir mais além da estrada, tentam buscar uma outra beleza e novos mundos no seu mundo.



fotos: AMMA


após a partida, desde logo o nk avançou. percebemos ambos e muito antes da corrida, que eu iria jogar à defesa desta vez e nem sequer esbocei qualquer tentativa de seguir perto.
foto: paulo fernandes - lebres do sado
as paisagens assumiram desde logo a liderança na corrida. a água, o meu elemento âncora (ser do signo peixes tem disto) predominava, ora inundando as terras, ora reinando no seu próprio espaço, ela, forte, serena, expectante, imponente. sucediam-se as subidas e descidas e a corrida adivinhava-se dura. seguia com as pernas pesadas, com algum cansaço pela respiração por vezes penosa. a companhia da célia e do sousa ajudava, e a espaços o hélder colava-se a nós. o mayer também seguia perto. chegados à barragem, um espectáculo único, a força da água, geradora da energia e renovadora das energias circundantes. um branco imaculado, a virgindade do poder total dos elementos, inacessível a qualquer vã tentativa humana de domínio.
foto: brito - clac

foto: AMMA


a prova continuava serpenteante, com verdadeiros trilhos, ora de pedra, ora de lama, ora de erva, ora de terra. sempre a subir, a descer, com poucos momentos planos.
foto: paulo fernandes - lebres do sado
como companhia tinha agora a cecília, solidária até ao fim, e a espaços, o moutinho, uma das lendas dos trilhos em portugal, o confrade dos trotamontes. e com ele lá seguíamos no plano e nas subidas, pois nas descidas ele acelerava, aquele corpinho robusto, mãos atrás, equilíbrio perfeito, quase inacreditável. e ensinou-nos: o mais importante nestes provas é a caminhada. atletas fortes podem cometer mais erros, podem acelerar antes de tempo que dá para ajustar; atletas menos profissionais, como nós, connosco os erros são menos toleráveis. o segredo, é treinar muito a caminhada. o segredo reside aí: saber quando e como caminhar, saber avaliar o estado real ao longo da prova, saber ser paciente. caminhar. e nos intervalos da caminhada correr um pouco :) e lá seguia o moutinho, de headphones, no seu treino para as 100 milhas do país basco. num mundo só seu, envolvido com a natureza e nos seus pensamentos. obrigado moutinho!

nos abastecimentos sólidos uma espécie de animação glicídica: marmelada, biscoitos, laranjas, sumos, ajudavam a restabelecer. no 1º confesso que ia em baixo, descrente. e ainda íamos a meio da prova. com a ingestão destes reforços animavam-se as forças. e lá seguíamos, incentivando-nos uns aos outros, todos na peugada da aventura, todos em busca da pedra preciosa que sabíamos só nossa, no final, no passo imediatamente a seguir à linha da meta. a dor aumentava. o cardio estabilizava, traduzindo por miúdos uma realidade crua: não dá para seguir mais depressa, daqui para a frente só há 2 alternativas: aguentar a dor ou desistir. mais depressa não, não deixo!!!
a cabeça tentava aniquilar as sensações contraditórias do corpo. a vontade de chegar, contra a dor em cada passada. e a atenção tinha que ser redobrada, fita após fita, para não gastar energia em vão. após constância, almourol com a estação de comboios onde nos perdemos ligeiramente, estação antiga e silenciosa, com o porte da nobreza que resiste ao tempo. o castelo brindava-nos com um imaginário de sonho e uma paisagem de excepção. após uns quilómetros e um novo abastecimento, em tancos, novas subidas, novas descidas, novas paredes, novas extensões de lama, novos desafios dentro do desafio maior, o que nos colocávamos a nós mesmos. brincando: o que estamos aqui a fazer num domingo? como comentou o joaquim Adelino: há um momento em que só queremos terminar, nada mais interessa. e eu estava assim mesmo, após as 4 horas de prova, o tempo a passar, os quilómetros também mas mais devagar, e só queria terminar. já nada interessava, nem o ritmo, nem o tempo de chegada, nem o tempo do controlo – há um momento em que o próprio tempo de controlo deixa de interessar, a dor desaparece e estamos quase num estado ou num patamar “branco”: nada interessa, apenas terminar. não há dores, não há sensações, a paisagem parece que está dentro de nós e não nós, quem estamos dento da paisagem. nós somos o contexto e para além pouco existe. mesmo a forma de enfrentar as subidas se torna quase ridícula, caricata, pois de tanta dor, nem hesitamos em seguir, em subir, pois sabemos que será até desfalecer, já não há dor, já não há angústia, apenas, apenas e só, o caminho, para a frente, mais ou menos moralizados, mas é para lá, para diante, aos tropeções, cambaleantes, mergulhando os pés na lama, retirando os ténis pretos de lodo, mal cheirosos, tendo que os descalçar porque estão cheios de terra e porque queremos chegar ao final. e porque sim!!! apenas. E sentamo-nos, na terra, sem saber como, nem sem saber como nos vamos levantar, mas uma coisa de cada vez, desatar os atacadores, tirar os ténis, sacudir, calçar, atar novamente e levantar. Como? Não sei bem, mas lá estava de pé novamente, pronto a seguir.

e vamos encontrando outros colegas, alguns já descolaram há muito, outros deixam-se apanhar, novamente o moutinho, a eliana e o hélder sempre à vista, mais ou menos à vista, e a cecília, super companheira, sempre a conversar – em quase 6 horas de corrida conhecemos uma outra pessoa, diferente da que conhecemos antes da partida, partilhamos opiniões, convicções, vivências, experiências. a riqueza dos trilhos, para além da comunhão com a natureza e connosco, também porque permite esta sequência de interacções humanas. segundo a segundo, sempre a aprender, sobre nós e com os outros.

o final aproxima-se, um ligeiro desapontamento com o anúncio de que final não falta 1 quilómetro, faltam 2 e meio. ainda corremos, ainda dá para correr, vamos em frente, o moutinho já não o apanhamos, mas a eliana e o hélder sim, já não se chama apanhar, chama-se acompanhar, porque precisamos de companhia, de conforto junto de quem passou pelo mesmo, é um partilha silenciosa, quase no final. ainda um riacho de água fria, regenerador, que devolve a vida e a vontade e a alegria de poder terminar algo único. sim, a fortuna de poder fazer o que muita gente não tem possibilidade de fazer, por muitos e variados motivos, sim! poder, com plena capacidade e controlo, terminar uma batalha interior, poder correr para a meta, rejuvenescidos e recomeçar a correr, quando o corpo já esqueceu das dores, já esqueceu de que há segundos apenas caminhava, penosamente, que raio de corpo é este, que espécie humana é esta, que das fraquezas faz forças, que ainda arranja tempo e vontade e paciência e energia, para terminar uma corrida de quase 6 horas, pleno de júbilo?



foto: AMMA


terminada a corrida restava agradecer e parabenizar a cecília, a eliana, o hélder, o casal almeida, o casal brito e otília, brincar com o tigre, e exultar, de alegria, uma alegria que poucos entendemos, apenas os que lá estavam, a organizar e a correr.

e o meu querido amigo nk, que ainda vinha do carro com o meu polar quente e meu blusão na mão, não tivesse eu frio. claro que agradeci e fiquei sensibilizado, mas tentei o mais gentilmente que consegui recusar e agradecer, eu que naquele momento ardia em felicidade, ardia de algo chamado a “febre do tartaruga”, tinha atingido uma elevada temperatura e estava num estado de exaustão e de excitação que se anulavam mutuamente.

eu que apenas queria gritar ao mundo a plenos pulmões que havia conseguido, que me havia desafiado e superado, que saía desta aventura mais forte, mais humano, mais sensível, mais rico, mais … apenas mais! e talvez, talvez, também, com uns poucos de menos: menos convencido de que há impossíveis, e menos convencido de que há muitas coisas importantes na vida.

é que no fim destas corridas, reforçamos (reforço) a crença de que o que importa é mesmo muito pouco. são as pessoas, é a vontade, é o medo e a coragem de desafiar o medo, mesmo cheios de medo e de incertezas. o que importa é saber receber o que a vida nos traz, todos os dias, as subidas, as descidas, as quedas, os abastecimentos, as gargalhadas, o riso das figuras ridículas que fazemos, o sonho, o desafio, o medo, a angústia, a superação, a crença, para a frente e em frente.

o que importa é saber que é passo a passo que fazemos, cada um de nós, a nossa caminhada, a nossa corrida, o nosso trilho. e que cada corrida de trilhos, de aventura, de 6 ou 60 horas, apenas é mais uma, no conjunto de corridas a que nos devemos propor e a que somos expostos todos os dias. e que todas contam para fazer de nós melhores seres humanos. mais solidários. mais vivos. mais plenos.
e cheios de vontade de nos metermos noutra aventura! :)
sim. é verdade. também aprendemos que pouco juízo ganhamos. mas que cada um escolhe a vida que quer viver. e é essa a que está certa!!!
até breve e obrigado pela paciência de me lerem até aqui.
ab - tartaruga

domingo, 7 de março de 2010

25 (1ºs Trilhos de Almourol - Odisseia Dura e Bela)

bati o meu anterior recorde de permanência em prova: 5h53m, para 38 km oficiais de prova.
:-)

parabéns à organização, ao clac, ao brito, otília e equipa, pelo esforço e pela organização de um evento desta natureza. para uma 1ª edição considero que esteve muito bem. mas ... entre os 33,5km e os 38 km, nunca mais passavam os quilómetros … :)

abastecimentos muitas estrelas, pessoal da organização super simpático e motivador.
a corrida é excelente, com vistas verdadeiramente paradisíacas. o percurso foi duro, muito duro. pensava que há 8 dias tínhamos ficado vacinados para as subidas, mas enganei-me. a dureza de alguns paredões foi algo inesperada para mim. mas lá se fizeram.
obrigado mestre nuno k, o grande mentor da minha entrada nos trails há quase 1 ano e que é sempre uma companhia de excepção, um amigo com que gosto de estar.

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o levantamento dos dorsais foi feito no sábado à noite, pacífico, não estava quase ninguém na tenda, e ainda estivemos um bocado à conversa com o brito e otília. saí animado pois parecia que o percurso seria mais para o plano. wrong!!! :)

a minha maior preocupação eram as dificuldades respiratórias, durante a semana tive uma inflamação aguda na garganta, que rapidamente desembocou num entupimento geral das vias respiratórias superiores. ainda ponderei se havia de realizar a corrida ou não, mas decidi arriscar. logo se veria.

o trajecto de autocarro para a aldeia dos matos foi excelente, com muito boa disposição, sobretudo por causa do zé pereira e do paulo mota das lebres. as caras conhecidas logo ali, do costume: célia, cecílcia, zé pereira, dina e paulo mota, o sousa, mayer, analice, tiago, e alguns outros.
chegados à zona da partida algumas fotos e um cumprimento especial à família almeida. foi também um prazer rever o amigo adelino, conhecer o vítor veloso e cumprimentar o pessoal do mundo da corrida.

alguns companheiros ficavam admirados por ser eu, o tal, o tartaruga, algo que achei piada e que me motiva naturalmente a ir continuando a escrevinhar umas coisas. bem hajam e obrigado!

dada a partida segui na defensiva por causa das mazelas respiratórias. até aos 10 km segui com a célia e com o sousa, mas fui deixando o passo ficar mais para trás. as vistas da barragem eram maravilhosas. algures nos 8 km, após o 1º abastecimento o mayer raposo caiu e tentei ajudar e ver se estava magoado. lá seguiu com umas feridas, mas “inteiro”. logo a seguir fui eu que caí numa das pedras muito escorregadias junto à barragem. o osso ilíaco e o cóccix iam ficando em castelo de bode :)

no 2º abastecimento aos 14,5 km as pernas iam pesando. já tinha a companhia da cecília, que foi uma autêntica pérola, pois seguiu sempre comigo até ao fim, motivando e dando ânimo.
por essa altura íamos alternando posições com o moutinho, o lendário trailer. aprendi mais em 10m de conversa do que nos trilhos todos que já fiz. e fiquei “aterrado” com a forma como ele faz as ditas descidas técnicas. o homem embala e ninguém o pára. estava apenas a treinar para o desafio das 100 milhas do país basco! admirável.

por volta dos 18 km o carlos coelho, vizinho de linda a velha, cumprimenta-me e fico a saber que há mais um companheiro que conhece o tartaruga. já ia com algumas cãibras e espero, amigo coelho, que tenha corrido bem a prova. ainda não vi as classificações, mas espero mesmo que tenha ultrapassado as dificuldades.

pelos 19,5 km o 3º abastecimento. ia já cansado, com as pernas pesadas e a ver a minha vida andar para trás com metade do caminho até à meta. comi bem, o abastecimento foi um espectáculo, a vila de constância deliciava-nos os olhos e a alma. lá seguimos e mal sabíamos que
a 2ª metade seria tão dura que duraria mais 3h e 10m, contra 2h 40m da 1ª metade.

passado um pouco perdi definitivamente o amigo adelino que ia a par connosco.
as subidas e decidas iam-se sucedendo e as pernas ia resistindo, melhor do que esperaria, pois desta feita não houve esboço de cãibras.

aos 27,5km o 4º abastecimento, altamente motivador e que me renovou, com aquele marmelada e a boa disposição do moutinho. ali seguiam também a eliana e o hélder, com quem viríamos a terminar, depois de terem descolado durante uns quilómetros e de se terem perdido mais à frente de nós. parede atrás de parede, ainda nos perdêramos, antes na zona da estação de almourol, coisa de 5 minutos para voltar a encontrar as fitas – o percurso estava bem sinalizado, atenção!

íamos com um grupo de malta próxima e recuperávamos alguma distância nas subidas. com um subida muito dura, lembrando o monge, chegámos aos pretensos 33,5km.

boa disposição, obrigado otília pela força. bolachinha, biscoito, água e lá seguimos muito motivados, para uns últimos 4 km e meio. com mais uma paredes e um enterranço quase até ao joelho, de lama, com os 2 pés, as dificuldades aumentavam. mas a motivação era muita. mais à frente, na igreja informaram-nos que faltavam ainda 2,5 km. banho de água fria, pois contávamos com menos de 1 km e as pernas já pesava.

curiosamente o cardio ia mais baixo, desde as 3h, tal como na semana passada. há um momento em que a máquina manda, segue em ritmo próprio e a cabeça “apenas” tem que aguentar as dores nas pernas.

lá fomos até ao fim agora junto da eliana e do hélder do mundo da corrida. ora a trotar, ora a caminhar, chegámos ao parque do bonito e passámos aquele riacho maravilhoso, de água gelada, que para além de lavar os ténis e a disposição, anunciava que estávamos muto perto. a 500m da meta um telefonema da cristina para saber como tinha corrida. já era tarde para as previsões iniciais :) mas ainda não seria desta que ficaria viúva, afiancei-lhe ...

já a ouvir as vozes na meta, demos uma última corrida vitoriosa.

foi maravilhoso cortar aquela meta. superei um desafio enorme, numa semana turbulenta e com algum receio pelas mazelas. ainda não tinha naturalmente recuperado de sicó e esse efeito fez-se sentir.

a prova é muito bonita, recomenda-se, mas terei que a voltar a fazer mais descansado e menos constipado. parabéns mais uma vez a toda a organização, aos companheiros que ousaram enfrentar este desafio. a dureza também foi condicionada pelo meu cansaço e pouco tempo de recuperação da semana anterior. mas valeu tudo.

estou muito feliz com esta corrida e com a forma como consigo “andar” :)

voltarei com mais posts, fotos, e alguns pontos de vista sobre a aventura nestes trilhos.

mais um obrigado ao nuno k pelo fim de semana, e à cecília e à eliana, hélder e moutinho, pela companhia a partir dos 10 km.

um abraço
até breve e boas recuperações!
ab - tartaruga

quinta-feira, 4 de março de 2010

24 (1ºs Trilhos Terras de Sicó - Lições Aprendidas)

as lições aprendidas são poucas, mas espero que boas!
juntam-se a muitas outras, neste processo cumulativo e nunca concluído, de aprendizagem e melhoria contínua:
  • mochila - não era necessária. com tantos e tão bons abastecimentos, uma bolsa seria e será suficiente. vou ter uma ajuda para ver se ainda treino com uma antes de domingo a tempo de não carregar com esse peso ligeiro, mas ainda assim, incómodo.

  • jantar de véspera - foi o possível mas ... carne foi muito má ideia, as batatas fritas também não ajudaram, o belo pão e o belo queijo, bom !!! :) já não como assim tanta carne normalmente, e ainda mais, na noite antes da prova!!! provocou uma digestão mais pesada e uma sensação de "mais preso das pernas" no início.

  • ingestão de liquídos - apenas água. desde há uns meses e em todas as provas apenas ingiro água, sem powerade e afins. tem corrido bem, sem a sensação de barriga cheia que Às vezes aparecia.

  • barras energéticas - aprecio mais do que o gel. apesar da maior dificuldade, como não luto pelos 1ºs lugares, posso gastar mais uns segundos a mastigar. sabe melhor e reconforta mais o estômago.

  • ritmo de prova - tentei seguir num ritmo agradável, mas creio que conseguiria o mesmo resultado mas de forma mais eficiente, caso tivesse gerido melhor o esforço entre os 10 e os 20 km. para domingo em almourol, este aspecto será um dos mais relevantes, atendendo à distância de 35 (ou seão 38 :))) km.

abraço

ab - tartaruga

terça-feira, 2 de março de 2010

23 (1ºs Trilhos das Terras de Sicó - algumas Fotos)

pois aqui ficam algumas fotos que gente de bem foi tirando e onde o tartaruga e o foca aparecem em grande estilo.







fotos do paulo fernandes

desde já um OBRIGADO aos fotógrafos.

tirei algumas com o telemóvel mais ainda não as descarreguei devido a limitações técnicas "temporárias".

fonte

uma nota menos boa, não para a organização, mas para algumas pessoas que são deficitárias em "educação" e cidadania.
sim! isso mesmo, aquilo que nos distingue, queremos acreditar - pelo menos alguns de nós, como gente "civilizada".
garrafas de plástico no meio do campo, a centenas de metros dos abastecimentos, embalagens de gel, barras energéticas, ..., enfim! a poluição no seu pior.
curiosamente, feita por quem participa em provas onde se tenta fazer a diferença em comunhão com a natureza ...
se todos tivessem sido, ou fôssemos actualmente, como os poluidores, talvez não tivessem serra para correr nesta bela prova.
abraço
ate breve
ab - tartaruga